Um exemplo de viver fora de sistema

11/12/2016 06:57

Veja como vive o casal classificado 

como “Classe F” pelo IBGE

Fonte: Viver fora do Sistema

Carlos e Patrícia de Porto Alegre relatam como vivem a vida “classe F”: sem TV, com banheiro seco fora de casa, morando numa casa de barro e muito felizes praticando a Permacultura.  Conheci o casal quando vieram aqui no Instituto ficar como voluntários. Quanto aprendizado a equipe do Instituto Pindorama teve com estes dois. Carlos um dia me conta que o IBGE os visitou e o pesquisador disse que a situação deles era classe “F”. Ele retrucou “F de Felizes!”. Segue abaixo o relato da trajetória do espaço Naturalmente em Porto Alegre nas palavras do próprio Carlos.

“A história do início do Espaço Naturalmente começou em meados do ano de 2007, quando insatisfeito com o modelo de vida urbano e cansado de apenas reclamar do “sistema”, sem ver uma solução prática para preencher um vazio interior que se tornava cada vez maior, resolvi me questionar e principalmente questionar o porquê deveria esperar me aposentar para daí sim buscar alguns sonhos, como por exemplo, o de ir morar em um sítio… Nesta época eu cursava Educação Física (6° semestre) e já fazia alguns artesanatos com Bambu, como hobbie. No final do mesmo ano resolvi trancar a faculdade e me aventurar em busca do sonho de ser livre, buscar uma vida mais simples e o que realmente importava para mim.

Nessa transição não tinha claro um objetivo, porém sabia muito bem o que não queria mais. 

Sempre gostei de acampar e me sentia muito bem nestes momentos no campo, então decidi me mudar para a zona rural de minha cidade, Porto Alegre. Vendi meu carro e fui em busca do sonho de liberdade, sem saber direito o que iria encontrar. O hobbie com o Bambu se tornou em profissão e em pouco tempo passei a fazer móveis de bambu também. Na metade de 2009 consegui adquirir um pequeno imóvel (600m²), que em zonas rurais costumam ser muito baratos. Neste mesmo ano conheci a Permacultura e me identifiquei de imediato com sua filosofia e práticas. Fiz alguns cursos em Ecovilas que trabalhavam com a Permacultura. No final de 2009 iniciei o projeto Espaço Naturalmente, em minha casa, onde até hoje testamos e aplicamos as técnicas de Bioconstrução e Permacultura e ministramos cursos relacionados a estes temas.

Os escassos recursos financeiros no início desta transição, que na época pareciam ser um problema, na verdade foi uma grande oportunidade para realmente desenvolver o uso de materiais alternativos, como fundação de pneu para estruturas leves, construção com Terra Crua, utilização do bambu para tendas e estruturas etc. São materiais que temos em abundância em zonas rurais (terra, bambu etc). Como aprendemos na Permacultura, os problemas na verdade são desafios e servem para sairmos da zona de conforto e experimentar o novo, se adaptar, criar…

Em um destes cursos que ocorrem no Espaço Naturalmente, em 2011, conheci a Patricia, que começou a frequentar e ajudar no projeto. Ela cursou técnico em Agropecuária e também estava em busca de uma vida simples em área rural. Desde então somos um casal que toca o projeto juntos.

Hoje nossa fonte de renda é a marcenaria de Bambu, onde confeccionamos móveis, artesanatos e estruturas de Bambu, ministramos cursos sobre Bioconstrução com Terra Crua, Saneamento Ecológico, Movelaria de Bambu e prestamos assessoria em Planejamento Sustentável e Bioconstrução.

Muitas vezes deixamos nossos sonhos de lado por medos e incertezas, mas quando buscamos algo que realmente faz sentido, no fundo do coração, devemos ir atrás sem medo. Sempre terá os desafios, mas se encaramos eles com vontade e persistência é praticamente certo que teremos êxito, e mais do que isso, é uma grande experiência de vida! É claro que para nascer o novo, o velho deverá morrer… ou seja, temos que abandonar nossos antigos padrões de pensamento e ação e estar abertos para um novo olhar, que no início não saberemos bem o que é e como vai ser, mas a medida que caminhamos criamos nosso próprio caminho. Um carro para andar em uma estrada durante a noite só precisa iluminar com os faróis uns 30m a sua frente, e ao nascer do dia pode ter percorrido centenas de quilômetros, porém só sabia o que estava a 30m na sua frente… só temos que estar seguros dos próximos passos a seguir, ser organizado e perseverante.”