Autismo Tecnológico

23/03/2011 00:00

 Autismo Tecnológico

 

*Prof Dermeval Correa de Andrade/I-Argumentos

 

 

Sabe-se que o Autismo é um distúrbio da comunicação do desenvolvimento humano, que envolve padrões de comportamentos e interesses restritos, repetitivos e estereotipados.

 

Assim sendo, em termos psicológicos, o sujeito que assim age vive com receio dos contatos externos e, concomitantemente, com prazer predominante em seu mundo interno; permeado de fantasias e “sonhos acordados”. O sujeito se isola, inicialmente, devido a uma ameaça agressiva externa, fantasiada ou real. A criança autista, usa este mecanismo porque não vê outra saída para sobreviver emocionalmente.

 

Já no “Autismo Tecnológico”  termo que estamos cunhando agora — o indivíduo normal, que não sofre de nenhum autismo original, tem chances de realizar outros relacionamentos, porém, opta pelo prazer interno, administrado por ele mesmo, transformando até outras pessoas em objetos do seu desejo. Mergulham intensamente no mundo virtual. Contudo, isto é uma distorção, uma ilusão, pois os vínculos assim formados carecem de afetividade. Essas pessoas tendem a usar o instrumento Internet como um vício que “infecta” seu mundo subjetivo. Trata-se de um efeito colateral, quase previsível, e que já atinge um número significativo de pessoas.

 

Cientes dessa  nova realidade, temos que alertar nossas crianças e jovens quanto a esses efeitos nocivos. Pois, nessa fuga da realidade, ocorre uma retração da libido — energia psíquica profunda que movimenta o comportamento humano —  desencadeando comportamentos orais receptivos, tão encontrados em vários casos psicopatológicos.

 

Citarei dois exemplos — um coletivo e outro individual — para que se enfrente esse fenômeno. Nas escolas da Finlândia, país que prima pelo respeito à Educação e aos Direitos Humanos, as crianças são instruídas a permanecerem,  pouco mais de uma hora diária, nas atividades em que utilizam a Internet. O famoso Bill Gates, quando perguntado se a Internet era livre para o uso de seus filhos em casa, disse que não. Afirmou que uma hora por dia era mais do que suficiente. Acrescentamos que a vida em apartamentos nos centros urbanos e à excessiva exposição a computadores, celulares e à televisão retiram as crianças e os jovens das atividades físicas e lúdicas coletivas, alienando-os.


Bem leitores, países, culturalmente vulneráveis, ficam sempre à mercê de ações excessivas, nas quais, estão mascaradas as intenções de dominação do espaço subjetivo das crianças e adolescentes, como se as nações de ponta fossem ajudá-los em seu desenvolvimento e plugá-las à frente da revolução tecnológica.


Somadas a essa realidade, apresentam-se as atitudes de pais que, indecisos quanto à postura educacional em relação a seus filhos, estão mais inclinados à tirania destes — centrada no consumismo —do que a prepará-los para um futuro, cada vez mais complexo.

 

 

*Prof Dermeval Correa de Andrade,é Psicólogo, Formulador da Psicologia da Ideologia e Educação Social Tranformadora, palestrante e consultor sobre assuntos de Educação, Saúde e Cultura, preside o Instituto Argumentos, pelo qual publicou diversos livros, dentre eles "Psicologia da Ideologia" e "Educação Social Transformadora"